/r/rapidinhapoetica
Sub criado para textos e/ou poesias escritos em português, sejam por escritores profissionais, amadores, ou gente que só escreveu uma vez na vida e gostou.
Por favor, leia as regras para participar da comunidade!
Sub criado para textos curtos ou poesia escritos em português, sejam escritores profissionais, amadores, ou gente que só escreveu uma vez na vida mas gostou.
Por favor, leia as regras para participar da comunidade!
Aqui é estritamente proibido qualquer mensagem de natureza ilícita, ofensiva e danosa de qualquer forma para os nossos inscritos. Nossa proposta principal é manter um espaço respeitoso, coeso e sadio.
Conteúdo que seja criminoso ou faça apologia a crime será imediatamente removido e o responsável suspenso ou banido dependendo da gravidade do caso.
Se for copiar algo de algum ator dê os créditos SEMPRE!
Não é permitido fazer ofensas ou ataques diretos e nominais a outros usuários, mesmo que seja um desabafo sobre esse usuário.
Procure respeitar a Reddiqueta! o máximo possível.
Existem subs com propostas semelhantes em inglês, mas a princípio é proibido postar em outras línguas. Apenas lembre-se de que o foco da comunidade é em falantes da língua portuguesa.
Pela sua própria natureza o subreddit permite apenas submissões em formato de texto. Imagens e outras mídias apontadas como complemto ao texto serão aceitas, contanto que não sejam a essência do post.
Faça uso das flairs/tags. Todos os posts devem dazer uso das tags e flairs adequadas. As mesmas estão devidamente descritas na barra lateral do subreddit.
Meta-drama e propaganda política são proibidos: postagens de teor provocativo que buscam alienar parte dos usuários serão removidas. Existem subreddits mais adequados para esse tipo de conteúdo.
Não downvote os posts de outros usuários. Em caso de infração às regras (que incluem, entre outras coisas, ofenças e ataques pessoais), utilize o botão de report.
Flairs para seus posts:
Poesia: textos líricos em formato livre. A definição é tanto sua quanto nossa!
Conto: textos narrativos que criem um universo de seres, de fantasia ou acontecimentos, ficcionais ou não. Formato livre a critério do autor.
Canção: essencialmente a mesma coisa que a tag atual "Poesia", mas denotando um aspecto de musicalidade intencionado pelo autor.
Escreva Sobre: post no qual o autor escreve um trecho de uma narrativa, poema ou qualquer outra expressão textual, e os usuários são convidados a responder comentários que o continuem, com total liberdade quanto à direção, formato e tema. Inspirado no /r/WritingPrompts!
Construção de Mundo: post no qual o autor está interessado em expandir um conceito, ideia, mundo ou universo. Se trata de um formato bem aberto, cujo intuito é inspirar a criatividade dos usuários e, potencialmente, ajudar o autor.
Folhetim: inspirado na "literatura de folhetim", obras que eram distribuídas em capítulos nos jornais. A ideia é permitir que usuários criem narrativas, mundos, etc, de forma capitularizada. Totalmente livre quanto ao formato, seria possível a publicação gradual de obras literárias. Fica a critério do autor identificar o 'universo', ordem e posts associados.
META: para posts relacionados à meta conteúdo e crítica, referenciando tendências e a gestão do subreddit.
Tags textuais: tags opcionais incorporados nos títulos dos posts, com a finalidade de sugerir interações e regras específicas aos posts que as contenham.
[O que achou?]: tag que indica que o autor do post está interessado em críticas e comentários. Inspirada na forma de funcionamento do r/OCPoetry, a ideia é que, para fazer uso dessa tag, o autor deve ter fornecido críticas construtivas a pelo menos outros dois usuários que utilizaram essa tag (o autor deve linkar suas contribuições no seu próprio post). Obs: enquanto o uso não é normalizado, fique a vontade para utilizar a tag de forma indiscriminada.
[Conheça meu trabalho]: tag utilizada para convidar os leitores a conhecerem mais a respeito do trabalho do autor, uma solução para quem quer divulgar sua arte ou plataforma fora do reddit. O post deve conter um texto autoral, e o autor fica livre para divulgar seu trabalho da forma como achar mais interessante, seja no título, no corpo ou num comentário, linkando nesses contextos.
[<Outro>]: caso o autor tenha interesse de identificar o gênero ou outro aspecto de seu texto, está livre para fazê-lo por meio de uma tag própria.
Recursos:
Confira os vencedores do nosso concurso literário!
Concurso semanal em que usuários do sub escolhem seu texto favorito da semana. Vote você também no post com a tag [Fio Semanal]
Dicas de funcionamento da plataforma, incluindo dicas de formatação.
Subreddits relacionados:
Discussões gerais em língua portuguesa sobre livros, leitura, mercado editorial e literatura em geral.
Um espaço amigável para escritores divulgarem seu trabalho, pedir conselhos e ouvirem feedbacks.
O cantinho quentinho e confortável do Reddit para você compartilhar sua arte, seja ela qual for!
/r/rapidinhapoetica
Como sombra, ferozmente,
a inocência assalta a deliberação.
Nos âmbitos olhados todos
constata-se o hipotético,
a miragem também do satisfatório prisma;
visão modelo dentro da mente e desconjuntada
quando pensadas as lutas verídicas
que sempre faço fugir da alçada.
Não permanecerei mesmo eterno
mas sim detalhes que não cessam..
longas noturnas estradas,
as luzes e tantas criaturas nos velozes carros,
mazelas e criação no globo todo;
negadas narrativas de impulsão,
eu desejando um ausente fato.
Seu olhar distante e perdido
O momento que ela tanto almejava
Só podia vislumbrar em sua mente
Estava fadada a viver sob o peso das suas dolorosas memórias
Aquele que desejava já não podia mais chamar de seu
Só lhe restava agora, a tristeza
Pois observava agora
A outra realizar tudo aquilo que desejava.
Te falar, eu sou muito burro
De vez em vez, vem aqueles momentos errados, nas horas erradas, em que eu faço sempre a pior coisa
Me coloco, em uma arapuca horrível, eu fico sem escolha
A teimosia me segue, a burrice anda junto, aquela vontade de me colocar numa armadilha
Isso fica rebatendo na minha mente, não conseguia segurar minha teimosia
Contei a ela na hora errada, falei quando não devia, quando não é isso, era só algo que eu não deveria
Mas que desgraça! Eu fico que nem um besta, reajo da pior forma possível, não me ajudo nem um pouco. Como é possível?
Nasci com o dom do azar e a dádiva da burrisse. O feitiço da teimosia, me atinge e me inquieta, eu preciso sempre cair nele
Chega me dá uma raiva de lembrar. Como é que naquela situação eu poderia estar?
Estúpido, burro. Sinto que eu mereço por tudo isso passar. Talvez eu aprenda a como me controlar.
-Pedro Henrique
Um relato poético da minha burrice e teimosia diária. Obrigado por ler!
Pobre garota, foi condenada a uma vida de problemas
Probre menina, enrolada na seda dos tecidos da vida
Pobre dama, condenada a ter a má sorte que ninguém nunca terá
Ela me dizia contava seus entraves, não sabia como ela não caia de chorar
Mas nós caímos em riso, melhor do que deitar em lágrimas
Conversava até a sol cair e depois da lua surgir, vi o tempo voar como seus cabelos cacheados
Depois, ela sumia da minha mente, mas como de esperado, ela voltava a me chamar
Ouvia a voz dela na calada da noite, suplicando por um trágico ouvinte, era alguém que me fazia eu apenas distantemente sonhar
Passava um tempo, e eu a via de novo, era tão tentador ouvir aquela dama me contar
De uma vida sofrida, de pessoas ruins, de felicidades otimas e de seus saberes curiosos
Me tentava até a intervir, mas me faltava algo para agir
"Ouça, mas não se mexa!" Dizia parte de mim, "Ao sofrimento dela, você deve dar um fim!" A outra parte falava
Ah, Deuses! De agonia eu grito ao céus, chamando pelo conselho de vossas forças, me iluminem o caminho para o melhor
Sinto que aquele acima não estão ao meu lado, e a dúvida faz isso tudo pior
Minha covardia é meio maior dom, ou maldição? Uma nuvem que me ronda, de luz ou escuridão?
Como eu queria ter respostas, mas aquela singela dama não parece ligar para minha hora
Sei que ela não liga pra minha agonia, e sua mente deve estar muito longe de mim
Mas ainda sim, algo me chama para seus problemas...
...Pobre Menina!
-Pedro Henrique
Sei que não é algo incrível, mas eu tento meu melhor. Escrevi esse poema baseado em algo que eu tô vivendo com uma amiga minha. Pode ser até triste, mas tudo fica mais lindo como poesia não é? Obrigado por ler!
Forca de pérolas, coleira de pérolas O mundo é sua moldura Encontrei alguém perfeito pra quem não te ama ainda Sinto falta da sua loucura, linda
Sóbrio de amor Chapado de dor Perdidos em meio as nossas brigas Sinto falta da sua loucura, linda
Agora nós é nada Uma página virada Um nó que me amarra
Já não a reconhecia enquanto arrancava Os olhos de quem me admirava Não coube em mim Não pude ver com os olhos de quem se amava
E quando pude ver Não pude devolver Havia em você alguém Perfeito pra quem não me amava ainda Ali não tinha volta Sinto falta da sua loucura, linda
Então você vem e me solta Forca de pérolas Coleira de pérolas Ali não tinha volta Sente falta da minha loucura, linda? Eu te amo, ainda. Sinto falta da sua loucura Caíssa
Você vai conhecer outra garota um dia
E eu espero que ela seja a mais linda que você já viu
Sua voz não será fria como a minha mas a mais doce que já ouviu
E eu espero, eu rezo para que ela não seja como eu
Que ela não seja tão perdida, tão estranha, tão esquecida
Buscando em seus olhos de vidro um pouco de vida
Ela não pode ser manipulada, facilmente encantada
E descartada como se não fosse nada
Não será como eu fui.
as pessoas falam de drogas como se fossem pecado// mal sabem elas que o que o ser humano mais precisa é de uma droga// não uma dessas que se encontra na biqueira da esquina// não uma dessas que se encontra em raves// não// uma pior ainda// uma que nao desvicia// que não depende de conta farta// ou do quao longe está disposto a ir pra consegui-la// depende do incerto // do acaso// do destino// amor não eh que nem essas droguinhas que se encontra na biqueira da esquina// amor eh a droga que todo mundo quer// mas por vezes não se encontra por toda uma vida// eh a droga que te faz seguir tentando// a motivação pra viver um novo dia//
cheia de prata e ouro mas chega lá você ouve: Salve-me desse brasil sem cultura
Como salvar essa gente ? com cartas de rosário ? com a falsa liberdade ? com armas ou chicotes ? com censura ou aulas ?
Não sei, só sei que no final são o Brasil levado para lá digo o emigrante rouba a terra digo mais prazer encontro eu lá não sei como continuar essa longa história
Na verdade é um conto com vários contos cheio de navios e mortes cheio de dor e tristeza cheio de Brasileiros cheio de cultura
Alguns dizem estar repleto de defeitos mas eu vejo o perfeito na mata e no povo nas línguas faladas e na complexidade do Brasil mesmo com a diversidade de contos ainda há uma história a ser compartilhada
Digamos que eu sou parte desse povo que veio de baixo que passou a dor que sentiu o brasil na pele
Por isso eu digo: Oh povo repleto de dor Oh povo complexo Oh povo batalhador Gritem alto e orgulha-se da sua terra
Chega de idolatria a político Digo todos desejamos lutar Nos livrar das marcas do passado Mais jamais poderemos esquecer das cicatrizes
Para isso é preciso se juntar!!
FEEDBACK NERVOSO!!
Se quiser a história completa o link reina soberano nos comentários. Quem gostar vai lá dar um like e comenta no Wattpad, se não, sua mão vai cair. Thaks.
A seguir, o produto de uma garrafa de Vodka e muito ódio acumulado: (foda-se a formatação):
Uma gota de sangue rubro pingou do punho negro de Kali, e caiu muda num paralelepípedo do pátio da escola, silenciando a plateia recém-formada.
Ela flexionou as articulações da mão, já sentindo a chegada do habitual inchaço. A maioria das pessoas que conhecia chamaria aquilo de desconforto, mas Kali não era maioria; ela se deliciava. Recebia a reclamação da carne de braços abertos, enquanto observava excitada o que havia feito.
Os três moleques rolavam na poeira do pátio, gritando e gemendo de dor aos seus pés. Um teve o cotovelo socado pra dentro, deformando o braço numa minhoca inerte, outro, deu sorte de ter recebido apenas um cutucão no estômago, vomitou o lanche, mas ficaria bem. Já o terceiro e pior deles, Gustavo, com aquela carinha convencida e topete ridículo, provavelmente precisaria de uma cirurgia pra voltar a achar o próprio nariz.
— Sua puta vagabunda preta macaca desgraçada, você quebrou meu nariz — guinchou ele, com a voz fanhosa escapando entre os dedos das mãos, que tentavam segurar em vão a cascata de vermelho que descia da ruína no seu rosto, e chorou como uma garotinha.
— Tá querendo um pouco mais? — disse Kali, erguendo o punho ensanguentado enquanto exibia o sorriso branco para o garoto, que gemeu em resposta, assistindo seus dois comparsas se levantarem e saírem correndo.
— Vamo embora daqui, véi — disse Kevin, puxando Kali pelo braço. O amigo magrelo suava frio, e tinha os olhos arregalados de susto.
— Ahhh, ainda não. Ele vai ter que pedir desculpas por falar da minha mãe com essa boca suja — disse ela, se elevando como uma torre na direção de Gustavo, que se afastou rastejando como pôde, e começou a gargalhar em meio aos gemidos de dor.
— Eu tenho parente bandido, sua vagabunda. Você vai ver o que ele vai fazer com você e com esse veadinho. — Gustavo escarrou uma pelota de sangue no chão, agitando um burburinho na plateia.
— Você endoidou? Eu tô bem, eles não fizeram nada comigo — disse Kevin para Kali, e cochichou no ouvido dela: — Você não ouviu o que ele falou? Vai mexer com vagabundo?
Kali empurrou Kevin com um braço forte.
— Isso não é mais problema seu! — Continuou avançando. — Eu vou ensinar ele a respeitar os mortos. — Limpou o nariz com o antebraço. — Isso, ou eu mando ele ir pedir desculpas pessoalmente.
O moleque no chão tremia como um veado encurralado, e a pantera espreitou com os olhos cravados no seu prêmio.
Gustavo deu um coice quando ela se aproximou, mas Kali afastou a perna com o braço e montou com o joelho no peito dele, chutando o ar para fora dos seus pulmões. Agarrou a garganta do rapaz, e exclamou:
— Pede desculpas, AGORA! — Armou um punho pintado de vermelho, mirado diretamente no rosto dele.
— Você vai… morrer, maldita — sibilou Gustavo, com dificuldade, tentando tirar a mão dela com as suas próprias.
Kevin correu na direção dos dois, e gritos surgiram e submergiram no barulho da multidão em volta.
— Para com isso, Kali. — Kevin tentou puxá-la pela camiseta, sem êxito.
— Ah, eu gosto desse barulho. — Ela espremeu um pouco mais a garganta do guri, que ganiu de dor. — Mas ainda não é um pedido de desculpas. — Lambeu os lábios. Os olhos escuros vidrados nos de Gustavo. — Vou contar até três, e vou ficar muito feliz se você não pedir desculpas até eu acabar de contar.
Kevin desistiu de tirar a amiga de cima do guri, e se afastou.
— Um… — começou ela.
— Vai se foder! — disse Gustavo, com uma careta.
Kali afundou o joelho no seu estômago, provocando um grito abafado.
— Dois…
Gustavo cobriu o rosto com os braços, se preparando para o golpe, tentando se proteger do jeito que dava.
— Três…
— Ei, ei, ei! Que merda é essa? — Um homem vestindo uniforme da escola pulou do meio da multidão. — Parem com essa merda, vocês dois, estão doidos? — Ele puxou Kali pelo braço.
A garota só tinha 18 anos, mas era quase duas vezes mais forte que o homem de uniforme; mesmo assim, não resistiu. Havia cumprido sua missão. Provocara a realidade o suficiente, e agora, poderia descansar um pouco, o mundo faria questão de procurá-la mais tarde, e aqueles malditos nunca mais ignorariam a sua presença.
— Essa vagabunda me atacou, Tiago — disse Gustavo para o homem de uniforme, apontando Kali.
— É, eu tô vendo — respondeu Tiago, segurando o braço dela. — Que merda deu em você, hein?
Kali não respondeu. Não precisava, apenas fechou os olhos, e sentiu o prazer que era ser arranhada pela existência. Ela não tinha certeza do porquê, mas desde que perdera a mãe, muito nova, carregava uma urgência quase sexual de ser. Ela sorriu.
— Ei, guria, você tá achando graça dessa merda? — disse Tiago. — Olha o que você fez com a cara dele.
Ela olhou, e depois olhou para o vermelho tingindo sua mão; se sentiu em paz, e decidiu que não tinha problema.
— Ele mereceu — disse ela.
A diretora da escola abriu caminho pelos alunos amontoados ao redor da confusão, trazendo consigo uma pequena tropa de funcionários, que pastorearam os jovens de volta às salas de aula.
Ela ajudou a botar Gustavo de pé, enquanto ele encarava Kali, cheio de ódio.
— Leva eles pra minha sala — disse para dois funcionários.
Eles assentiram e conduziram os dois separadamente até a secretaria da escola.
***
O mesão da diretora ocupava a maior parte da saleta, que mais parecia um closet do que um escritório. Sentaram Kali num conjunto de banquinhos fixados de frente pra ele, como num tribunal. A intimidação não funcionou. A diretora da escola e sua mesona não a assustavam; a situação toda não lhe gerava mais que um leve arrepio no estômago, um que ela aceitava de bom grado.
Obrigaram Eliana, uma funcionária da escola, a vigiá-la enquanto esperavam a chegada da polícia e o moleque idiota era atendido num outro cômodo.
— Eu vou ir presa? — perguntou Kali à funcionária, que montava guarda junto à porta, perscrutando a menina como se ela tivesse matado alguém.
— Não sei — disse Eliana, com as mãos em frente ao colo.
Kali olhou em volta, conjecturando uma cela vazia sobre o tribunal de orçamento limitado da diretoria, e percebeu que não ia durar um dia sequer trancada. Não pela limitação do ir e vir, mas sim, porque perderia por submissão, e dar à inércia essa vitória, ela não suportaria.
Mas eles não prendem menores, pensou ela, e se lembrou de que já havia vencido cada um dos seus 18 aninhos. Não se sentia uma adulta, mas certamente seria julgada como uma. Por dentro, nunca deixou de ser aquela menininha assustada.
Ela enxergou o telefone fixo em cima da mesa, e se levantou na sua direção.
— Ei, ei, garota, é pra você esperar sentadinha aí — disse Eliana.
— Preciso fazer uma ligação — disse Kali, sem cortar o passo, e tirou o telefone do gancho.
— Não é pra você ligar pra ninguém — disse Eliana, sem muita autoridade na voz.
— Eu ainda não tô presa. — Kali digitou um número.
Eliana abriu a boca, mas desistiu de falar. Balançou a cabeça e saiu da sala, irritada.
O telefone tocou uma, duas, três vezes, e seguiu com seu tinido intermitente, até convencê-la de que tocaria para sempre. Kali dedilhou a mesa de madeira, observando o friozinho na barriga se espalhar pelo corpo em ondas mornas de adrenalina, e seu rosto esquentou, arrastando a sua consciência vagarosamente para aquele velho lugar escuro. Teve medo, mas lutou contra o pânico. Engoliu em seco, e passeou a mão sobre a lisura da superfície de madeira, tentando sentir o que dava da realidade. Derrubou alguns papéis no processo, mas nada parecia ajudar, até que alguém atendeu do outro lado.
A ligação muda deu lugar à respiração ofegante de Kali, enquanto ela voltava a si, pensando no que dizer.
— Mestre? — articulou, finalmente. — Tá aí?
Por um momento, só houve o chiado estático, quando uma voz grave venceu o ruído:
— Que foi, garota?
— Preciso de ajuda. Bati num idiota aqui na escola. Estão chamando a polícia.
— Ele tá vivo?
— Só quebrou o nariz.
— Já disse pra não me ligar sem aviso! — Houve silêncio. — Não posso te ajudar agora. Depois que te liberarem, me procure. — A ligação caiu, ou ele desligou, mesma diferença.
O telefone apitava quando Tiago abriu a porta da sala, e Kali o devolveu ao gancho.
— A polícia chegou — disse ele.
Kali não receberia ajuda, mas as palavras do mestre a tranquilizaram. Como ex-policial, ele conhecia bem o sistema. Se disse para procurá-lo, quer dizer que não vou ficar garrada por muito tempo.
***
Kali passou metade da madrugada na delegacia, mas foi liberada após assinar um termo de comparecimento a uma audiência judicial posterior. Empurraram o assunto com a barriga, como faziam com quase tudo nesse país.
Esteve nervosa e agitada o tempo todo, dando respostas para perguntas não feitas, e faltando com a boa e velha educação, o que irritou bastante a representante do abrigo, que foi obrigada a vigiá-la por todas aquelas horas antes de arrastá-la de volta para casa.
O abrigo para menores só mantinha os jovens até os 18 anos, com exceção dos estudantes, que ganhavam um tempinho bônus. Kali terminava o 3° ano do ensino médio atrasada, e já não era muito bem-quista pelo pessoal do abrigo devido ao comportamento. Agora que a desculpa perfeita sambava ao alcance das mãos deles, aprenderiam a cantar a doce melodia da sarjeta, e Kali, se tornaria a sua ouvinte número um.
Após receber um sermão da representante, foi mandada diretamente para o quarto. Ela adorava ser antagonizada pelos funcionários, a concedia uma espécie de cantinho no mundo, mas infelizmente, a prática não era sustentável; precisava pensar no que faria após ser chutada dali.
A janela aberta convidou uma brisa fresca para dentro do cômodo fechado, agitando tanto o forro xadrez que cobria o beliche de Kali, quanto a ideia que ribombava na sua cabeça.
Ela esperou até que todas as luzes se apagassem; sinal de que os funcionários voltaram a dormir. Fugiu pela entrada de ar, e já do lado de fora da casa, pulou o muro alto em direção à liberdade.
Eram 3 horas da madrugada. O vazio e o escuro reinavam pelas ruas. Kali se esgueirou até o local de sempre: um galpão industrial meio abandonado nos arredores da periferia da cidade. Levantou a porta de metal que costumeiramente ficava aberta, e rolou para dentro.
O breu dominava o lugar, cedendo apenas ante uma pequena brasa que ardia rente ao rosto de um homem, contornando suas feições duras.
— O que você queria me dizer? — iniciou Kali.
— Fecha a porta.
Ela baixou o metal, e as luzes do galpão se acenderam.
O espaço negativo prevalecia com folga. Apenas uma sucata de caminhonete enferrujava tímida num canto, cercada de alguns pneus e materiais de construção provavelmente vencidos. Não era o dojo perfeito, mas alguém pagava o aluguel, além das contas de luz; Kali não sabia quem, e também não importava.
— Você foi inconsequente! — disse o homem, dispensando a guimba do cigarro. Era pouco mais baixo que Kali, mas muito forte. Tinha a pele da cor da ferrugem e longos cabelos castanhos que, assim como as suas roupas, não viam qualquer água já havia algum tempo.
— Eles cercaram meu amigo, o que você queria que eu fizesse? — disse ela, caminhando até um pneu suspenso, amarrado no teto por uma corda.
O homem se aproximou.
— Eles te atacaram? — Ele segurou o pneu.
— Não. — Ela começou a socar e se movimentar ao redor da borracha. — Eu tinha que fazer alguma coisa.
— O do nariz quebrado, quem era? — O homem absorvia os impactos com uma base sólida.
— Um bosta. — Kali agarrou o pneu e disparou joelhadas, expulsando o ar sonoramente a cada golpe. — O filho da puta ainda me ameaçou. Disse que o irmãozinho é vagabundo ou qualquer coisa… Quero ver ele tentar.
— Chute — disse o homem.
Kali chutou; a respiração: uma faca.
— Bom — disse ele, analisando os movimentos. — Chega. — Ele largou o pneu, e Kali parou junto, o peito subindo e descendo.
O mestre deu a volta na borracha pendurada e circulou Kali.
— Me acerta com esse chute. — Apontou para a própria cabeça.
Ela espremeu os olhos. Sabia que não ia conseguir acertá-lo, mas gostava da perspectiva de tentar, e também gostava de não precisar se segurar; raramente tinha essa oportunidade.
Avançou com um passo rápido, lançando um jab e direto, preparando a distância para o chute. O mestre se afastou. O pé direito dela deixou o solo, o quadril se inclinou, a cabeça no alvo; a rasteira veio instantânea. Ela se espatifou como um saco de batatas. Kali nem viu de onde surgiu, mas sentiu o concreto duro nos braços. Rolou para trás e parou de pé, assim como aprendera, recuperando a posição.
— De novo — disse ele, baixando a base.
Os dois se estudaram, e Kali partiu pro ataque, dessa vez, com mais energia, chutou, levou uma varrida na perna de apoio, e desabou.
— Ugh! — Deixou escapar um ruído de frustração, enquanto se colocava de pé.
O sangue já viajara para o seu rosto, e a raiva transpareceu no olhar.
Ela mudou a combinação antes do chute; boom! Beijou o chão novamente.
— De novo! — disse o mestre.
Ela berrou na direção dele, e chutou com toda a sua velocidade, só para cair mais uma vez pela mesma maldita rasteira.
Kali bateu os braços no chão.
— Haaagh! — gritou. — É impossível. — Se levantou devagar.
— Já desistiu?
Ela o fixou no olhar e correu na sua direção, lançando uma rajada de golpes, todos bloqueados ou esquivados, até que veio o chute, e o mestre pulou para dentro de Kali como uma cobra, indo de encontro, tronco a tronco, arremessando-a de bunda no cimento duro.
— Inconsequente — repetiu ele, observando ela de cima.
— Não é como se eu tivesse qualquer chance pra começo de conversa — ela resfolegou, levantando-se. — Só tá fazendo isso pra me cansar… só não sei o porquê.
— Errado. Você ataca sem pensar, e sua mente… tão desequilibrada quanto a sua base. Ataquei a mesma perna, todas as vezes, e você ainda insiste no mesmo plano de ação.
— De novo! — ele chamou com um abano de mão.
Kali parou para absorver a informação, e por um momento, pareceu hesitar, até que se aproximou devagar, com mais calma.
Entrou na área de trocação e lançou alguns socos e fintas, preparou o chute, o mestre pareceu desapontado, enquanto a perna dela subia e a dele ia de encontro ao apoio. Mas ela não caiu, em vez disso, pegou impulso e girou no ar como uma patinadora olímpica. A rasteira passou no vazio. O chute dela veio como uma broca de furadeira; mas, rápido como um gato, ele diminuiu a distância, e empurrou o corpo dela para longe, arremessando-a numa pilha de pneus.
— Continua apenas reagindo — disse ele. — Não precisa ter pressa, garota. O chão não tem saudades de você.
— Pra você é fácil falar. — Ela sentou num pneu. — Você sabe o que eu vou fazer.
— Sei?
— Você sabe que eu vou chutar.
— Só porque você insiste no contato. — Ele socou a palma da mão, e olhou-a nos olhos. — Você acha que o chão é inevitável… Eu sei que você vai chutar, mas não sei quando, você sabe como eu vou reagir, então, você sabe mais do que eu. Só precisa escolher tomar essa decisão, em vez de deixar que sua raiva escolha por você. Se você bater, o universo vai responder de qualquer maneira, garota. Cabe a você dizer se vai ser nos seus termos, ou não.
— O que eu faço, então?
— Apenas pare, e observe. Se você prestar atenção, o mundo vai falar. — Ele estendeu uma mão para Kali, e a ajudou a se levantar. — Você não precisa tomar todas as pancadas.
Ela assentiu.
— Vamos de novo — disse ela.
Ele lhe deu as costas.
— Por hoje é só.
— Mas—
— Seu amigo se machucou?
— Acho que não. Não sei.
— O que fazemos tem consequências, garota. Quando decidiu, sozinha, ir pra guerra, arrastou ele junto. — Ele pausou, deixando as palavras desfalecerem no ar abafado. — Você é capaz de se defender, mas e ele, compartilha da mesma sorte?
— Não vou deixar fazerem nada com ele.
O mestre se virou e riu; uma risada única e rápida, como um soco.
— Eu já ouvi essa mesma história antes, jovem, e eu sei exatamente onde ela vai dar. Já não está mais em suas mãos — disse ele, sério.
— O que eu devo fazer, então?
— Espere e observe, o universo vai te dizer.
***
A suspensão da escola veio primeiro: uma semana. Depois, foi proibida de sair do abrigo. Kali não era completamente contra ficar quieta num único lugar, a questão era que ali dentro não teria muito o que fazer, e acabaria tendo que inventar, o que provavelmente significaria problemas para alguém.
No segundo dia de tranca, ela se levantou antes do sol; sem acordar nenhuma das outras três garotas com quem dividia o quarto. Desceu as escadas até a despensa da casa. Pegou a chave escondida debaixo do tapete, e abriu as portas para algum tipo limitado de liberdade. Foi juntando rodo, vassoura, baldes e produtos de limpeza, e sem esperar qualquer ajuda, começou a varrer o chão.
As duas faxineiras da prefeitura que limpavam o casarão todos os dias já sabiam o que aquilo queria dizer, e quando chegaram, demonstraram a graça de deixar que ela ajudasse, porque entendiam o que significava mexer com Kali naquele estado. “Quais as suas ordens? Oh, iluminada rainha da limpeza” elas caçoavam pelos corredores, sem nunca deixar que a garota ouvisse, pois por mais jovem que fosse, era capaz de causar uma agitação tão antiga quanto o próprio mundo.
O sistema a rejeitou. Ninguém iria aconselhá-la, ninguém iria indicar uma direção, ninguém iria ajudar. Sentiam tristeza, pesar até, mas além de saírem do seu caminho e deixarem que limpasse o que quisesse, do jeito que quisesse, não fariam absolutamente mais nada; pois quem haveria de escalar àquela responsabilidade? Certamente, elas não seriam…
Kali comandou a faxina da casa por toda a parte da manhã, distribuindo ordens e recebendo incentivos das suas duas mais novas ajudantes; velhas conhecidas, mas que interpretavam papéis flutuantes no seu mundo. Ou ela não prestava atenção nenhuma nas duas mulheres, ou elas representavam parte integral da sua experiência, onde a não existência das mesmas, significaria a completa perdição da garota, que navegava a vida perigosamente próxima dos limites da sua própria sanidade mental. Quem visse de fora poderia achar a visão inspiradora, de maneira positiva, é claro, mas quem já conhecia a peça, sabia que o teatro todo só inspirava desespero.
Era por volta de meio-dia, e ela lavava um dos banheiros, quando as outras crianças chegaram da escola. Tinha uma vassoura furiosa nas mãos, e manchas de lodo quase ancestrais nas cerâmicas do piso, as quais pretendia erradicar. Seus músculos reclamavam, e o suor cascateava pela cabeça abaixo, mas ela sabia que o esforço era o que a fixava à realidade. Não era o pináculo da sua prova de vida, mas funcionava como um tempero amargo, que mantinha vivo o sabor da sua noção de si mesma, bem encorpado, e perfeitamente palatável.
Ignorando a luta que acontecia ali, uma garota pequena invadiu o cômodo estreito. Vestia um top vermelho, e shorts jeans mais apertados que nó de forca. Parou na frente do vaso, baixou o assento, e encarou Kali, que observava de pé, com a vassoura em mãos.
Karolaine não costumava desafiar Kali. Mas a menina crescia rápido. E, aos poucos, a garota enorme de 18 anos, que antes era vista quase como uma entidade alienígena, passava a ser considerada cada vez mais como uma igual, ou nesse caso específico, uma inferior.
— O que você quer, guria? — disse Kali, balançando a cabeça, autoritária. — Não tá vendo que eu tô limpando?
— Vou mijar.
— Acontece que você vai, mas no banheiro lá de baixo. — Kali apontou para a porta com o polegar.
— Acho que você não me escutou. — Karolaine pendurou a mochila num gancho de metal na parede. — Eu vou mijar aqui mesmo. — Apontou para o vaso, encarando Kali.
— Se insistir, não posso te garantir que o processo vai ser muito confortável, ou privado. — Kali escorou a vassoura na parede, e estalou os dedos das mãos.
— Nossa, acho que eu deveria ligar pro Ibama. Parece que alguém esqueceu a jaula do gorila aberta — disse Karolaine, com as mãos na cintura.
Kali riu. Para Karolaine, pareceu deboche, mas a verdade é que ela tinha gostado do insulto.
— Então, guria, a gente pode fazer isso de duas maneiras. — Kali abriu as mãos. — Ou você colabora e sai andando, ou se prepara pra passear de gorila.
— Eu não vou pra lugar nenhum. — Karol se sentou no vaso e cruzou as pernas, escorando o queixo numa mão. — Não sei o que te deram de café da manhã, pra você achar que manda em alguma coisa por aqui.
— Diferente de você, me deram vergonha na cara. — Kali marchou até Karol.
— Ah, é? E vergonha na cara, é sair batendo em todo mundo igual animal? — Karol se empertigou e correu para dentro do box do chuveiro. — Se encostar em mim, eu vou gritar, e mijo aqui mesmo se precisar, inclusive em você — continuou ela, através da porta de vidro aberta do box.
Kali forçou um suspiro.
— Pois fique à vontade. — Esticou as mãos até Karol, que disse rápido:
— Se encostar em mim, amanhã você já vai acordar mendigando debaixo da passarela do centro.
Ela agarrou Karolaine pelas coxas, e jogou-a por cima do ombro largo.
— Me larga — disse Karolaine, socando as costas de Kali, e gritou. — Aaaaaaah! — Um grito alto e agudo, que chacoalhou os tímpanos de Kali, mas não a impediu de continuar carregando a garota para o lado de fora. — Socorro! Me coloca no chão, sua fedida. — Ela esperneava.
— Você não é mais criança, mas se continuar desse jeito, não vai ter outro tratamento. — Kali largou-a no corredor do lado de fora do banheiro. Karolaine se jogou de bunda no chão.
— Ah, mas agora você tá fodida, vão te mandar pra Nárnia — disse Karol, analisando Kali com expectativa, esperando uma resposta.
— Ah, é? Dizem que a comida lá é boa. — Kali fechou e trancou a porta do banheiro na cara dela.
Karolaine saltou e esmurrou a porta.
— Foi bem feito o que fizeram com aquele seu nerd. Você merece — disse ela.
A porta destrancou e abriu num solavanco. Kali agarrou a garota pelos ombros.
— Como assim, o que fizeram com ele? — ela interrogou, séria, os olhos arregalados.
— Você não ficou sabendo? Assaltaram o moleque ontem, e quebraram ele todo. Ninguém mandou ficar andando com gente igual a você.
— Onde ele tá? — Kali espremeu os braços da garota.
— Me larga, eu não ando com animal — reclamou Karol.
A representante do abrigo, Helena, surgiu no alto das escadas do corredor acompanhada das duas faxineiras, viu a cena, e disse:
— Podem parar com essa zorra vocês duas. O que está acontecendo aqui? — O rosto retorcido de raiva.
— Essa vagabunda tá me batendo — disse Karolaine, com careta de sofrimento.
Kali jogou a garota para um lado e marchou na direção da escada.
— Tá vendo? — continuou a garota, se jogando no chão. — Prende ela, faz alguma coisa.
Dona Helena aspirou ar, se inflou toda e olhou para as faxineiras, que desciam as escadas na medida que a jovem avançava.
— Onde você pensa que vai, garota? — disse Helena, apontando o dedo.
— Sair — respondeu Kali, com o olhar fixo, e avançou sem dar importância para o aviso de Helena, que se afastou para a jovem passar. — Vou procurar um amigo. Você me leva no hospital? — Parou na metade da escada, olhando para trás.
— Claro que não, você está proibida de sair — disse Helena, sem convicção, com as bochechas sambando no rosto.
— Tudo bem — respondeu Kali, e matou o lance de escadas. A mulher desceu atrás dela, enquanto a jovem cruzava pelas garotas espalhadas no cômodo lá de baixo, recém-chegadas da escola.
— Eu vou chamar a polícia! — disse Helena.
— Beleza, diz pra eles que eu já volto. — Kali abriu a porta da frente e saiu para a rua.
***
Kevin deitava-se, sedado. Elevado em uma maca de lençóis brancos e cercado pelas máquinas que vigiavam as batidas do seu coração. Bip, bip, bip, cantava o aparelho, atravessando agudo, os pensamentos vingativos de Kali.
A mãe do garoto perguntou, em prantos, quem poderia ter feito isso com o seu menino. Kali mentiu que não sabia. Resolveria aquilo com as próprias mãos.
O universo perguntou. A resposta: justiça!
CONTINUA... (LINK NOS COMENTÁRIOS)
Contragolpe by Eri Santos & Liv (Ela não gosta de créditos [juro que não tô tentando roubar os holofotes ;]).
Doce morte, só tu me fazes parecer real,
Só tu me concedes o prazer de ser efêmero,
Permitindo-me ser um paraíso,
Sendo eu um eterno déjà-vu.
Nesses dias que são os mesmos,
É a ti a quem entrego meu coração,
Como se fosse a primeira vez.
E é tão lindo.
Desmoronando, à beira desta janela,
Cruzando céus, prostrado neste travesseiro,
Vi estrelas pelos olhos que falam mais que a boca,
E, nos mesmos, reluziu a aurora a que me entreguei.
Abraçando as incertezas do pensamento,
Danço em imaginação até o sono me deter,
Deslumbrado pelo que só posso ver,
Almejando o que só posso imaginar.
Não é muito, mas o que poderia eu te dar?
Além de visões vis e da minha torpe tristeza,
Dar-te um coração que já não está em meu peito,
Entregar minha imaginação, que me fez te adorar.
Neste tampouco tempo, foi o que aprendi:
Não grite, mas sussurre. Me use, querida.
Que não sejamos mais sós sob a lua.
Dê fim à recusa, para que, por fim, eu possa dizer:
Que te amar, meu amor, é como morrer.
Carpe Noctmoon 🌙
A destruição das pirâmides púrpuras,
Sonhou o céu de mármore partido.
O grito escorre em chamas obscuras,
no silêncio do tempo consumido.
Os vértices rasgam estrelas nuas,
fragmentos caem como espelhos frios.
No vento, ecos de sombras flúidas,
o caos dança em labirintos vazios.
Seu perfume, um sonho em contramão,
entre flores e o pó da perdição,
seu toque, espinhos, dor e tentação.
Seu efeito, euforia, diálogos e destruição.
E no abraço suave da loucura,
eu me via desfeito, sem cura,
naufragando junto à sua ternura.
Tentando controlar essa fissura.
Todos os dias,
Eu te imagino,
Eu te idealizo,
Com teus olhos castanhos, profundos como o pôr do sol.
Teu cabelo negro, suave como a noite,
Teu doce perfume que enche o ar de serenidade.
Em momentos ternos,
Ouço tua voz suave,
Uma melodia que acalma minha alma,
E teu toque, leve como uma brisa,
Traz paz aos meus dias mais turbulentos.
Antes de te conhecer,
Eu já te conhecia,
Antes de te conhecer,
Eu já te amava,
Em meus sonhos, em meu coração.
Teu sorriso, um raio de sol que aquece,
Tua presença, um doce mistério que anseio desvendar.
Quero me perder em teus lábios,
Em teus segredos,
E te carregar no meu ombro,
Tirar o peso do mundo dos teus ombros.
Caminhar ao teu lado, sempre.
Eu te idealizo,
Com teus olhos cor de mel,
Um pôr do sol no fim do dia. E em ti,
Encontro a paz, a beleza e o amor que sempre busquei.
Me inspirei a escrever novamente, bebi um pouco demais, e isso saiu do meu peito. No passado, tive um amor verdadeiro. Às vezes, me sinto vazio...
Este poema saiu para uma pessoa que não existe, e nunca saberei se algum dia existirá. Estou escrevendo belas palavras para um fantasma...
----------------------------------------------------------------------------------------------
Postei um tempo atrás na gringa, traduzi e, melhorei e postei aqui.
Tenho focado bastante e aos poucos melhorando minhas poesias!
Desde criança catando os meus cacos
Juntando inúmeros pedaços
Tentando encaixar peças quebradas
Memórias apagadas
Não sei o que fazer
Se tudo isso foi por merecer
Será que eu sou tão odiável assim?
Meu corpo repugnante,
Minha voz rouca sem personalidade,
Meu rosto inchado e sem angulos marcados
Minha cabeça maluca e ignorante
Eu tento me amar, mas parece missão impossível....
Algumas pessoas acham que eu tento validar e pedir por atenção quando reclamo da minha vida, da minha aparencia. Acham que to exagerando, fazendo drama. Se eles vissem o que eu vejo quando olho no espelho ou assisto ao um vídeo meu gravado... É de dar pena.
Sinto que não posso me odiar mais do que me odiaram; afinal, estar assim é o que eles queriam pra mim.
Mas eu não sei acalmar essa maldita voz na cabeça
Me diz que não sou boa nem suficiente em nada do que faço.
Que nada adianta eu criar meu espaço nesse mundo
Que isso não vai resolver o sofrimento profundo
Não importa o tanto que eu estude, trabalhe, treine, aprimore o que eu acho que posso contar como habilidade, eu ainda sou jogada pra escanteio quando não sirvo mais e zombam de mim.
Do meu sorriso escancarado,
Da minha risada escandalosa,
Do meu jeito espontaneo,
Da minha postura de durona.
Mal sabem eles que na verdade eu vago sozinha por aí por nunca ter companhia. Todos que se ofereceram pra me acompanhar me decepcionaram na hora ou em outro momento.
Não quero arriscar perder o pouco que tenho;
Se é que tenho algo nessa vida.
As vezes parece que só estou e as coisas estão também.
Amanhã pode não estar mais.
Menos essa merda de insuficiência.
Esse caralho de autosabotagem.
Esse senso de auto crítica sem fundamento nenhum, implantado na minha psique quando eu nem sabia o que era ser.
Só queria que o sofrimento acabasse.
Queria poder trocar de servidor.
Recomeçar em qualquer lugar que for.
Mas eu só tenho o meu baseado, minha cadeira descadeirada, meu cerébro e o caos que o acompanha.
Feliz melancolia é saber, enfim,
Que o Sol explodirá, mas não pra mim.
Não estaremos aqui, nem pra observar,
Estaremos no tempo, a continuar.
Feliz melancolia é saber que quando o Sol explodir,
Nós já não vamos estar no jogo do Corinthians ou num jantar,
Na ponta da cadeira, segundos antes do filme acabar,
E, quando acabar, se tudo acabasse agora...
Feliz melancolia é dançar no chão,
Entre risos e choros, silêncio e canção.
A cada segundo, um eterno brincar,
Mesmo sabendo que tudo vai se apagar.
Se tudo acabasse, seríamos faísca,
Memórias na noite, poeira artística.
Mas enquanto há tempo, enquanto há luar,
Há dança, há vida, há tempo de amar.
E não há por que temer o final,
O Sol vai viver num tempo abissal.
Quando esse dia chegar pra brilhar,
Nós já teremos partido, sem nada pesar.
No caso, sou eu
Eu que confiei e acreditei
Eu que defendi e abracei
Trouxa.
Abri espaço
Disse que estava tudo bem
Me senti especial
Trouxa.
Compartilhei partes enterradas
Mostrei pedaços frágeis
Inseguranças escancaradas
Trouxa.
Deixei sua opinião influenciar a minha
Tapei os ouvidos pra minhas amigas
Disse a todos que você mudou
Trouxa.
A cada conversa
Trouxa.
A cada risada
Trouxa.
Agora vá lá!
Tente achar outra
E a faça de trouxa no meu lugar.
Inanição espiritual.
Um forte sopro na chama da vida que, diferente de outros sopros que a intensificam, extingue-lhe por completo.
Um Nada atrativo para a mente faminta, que enaltece sua fraqueza com suas próprias forças.
Às vidas realizadas — uma partida esplendorosa, com viagem e destino planejados.
Às fragmentadas — uma tragédia irremediável, um destino incerto, uma forma inconstante que a cada metamorfose reluta ter certeza de sua miséria e da causa de seu sofrimento.
Nas dificuldades nos abandonamos. Buscamos por explicações além. Onde estaria o problema senão naquele que o define?
Consideras as águas que vês sujas demais? Os nobres de espírito, tendo bebido de todas as fontes, já saciaram sua sede. Com renúncia votiva aceitam o fim de todos os fins.
Caminhe. Com pernas trêmulas que seja. Que tua sede te guie. Beatitude e sofrimento são sabores opostos mutuamente realçados.
Que a saciedade seja tua consumação. A resolução de três linhas para um grande épico. A plenitude do oceano após uma tormenta colossal.
“Revelarei todo o meu ser,
tão apático e sensato
Com este poema chato,
que morreu sem antes nascer
-------h
Escrevo de olhos dormentes
Enquanto minha mente vã
Olha para o largo divã
E embota de lágrimas a lente
------h
E não choro de aflição
Nem mesmo de alegria
Mas cansei-me da euforia
E assim eu ando então
-----h
Estou cansado de existir
Não de forma suicida
Me canso da dor sentida
No mero ato de sentir
------h
Acabando vou falar
Não é um final heroico
Esse é um poema lógico
Então rimar não vou”
No escuro das pálpebras,
luzindo o teu brilho brilhante,
me lembro de teus olhos diamante
e me perco encantando
nas músicas que tenho cantado
pensando em você
------hhhh
e os diamantes voltam a luzir
e luzem de modo que nunca senti
e ali eu me perco sorrindo
enquanto você está rindo
e gosto de achar que insano eu fico
só imaginando te amar
------hhhhh
falar o teu nome é assustador
é um grito contido, sussurrado,
que eu tenho calado
quando abro os olhos
e não vejo nada senão a parede surda
que faz toda essa poesia ficar muda.
-----hhhh
se deus fez um mundo, fez outro em você
e deu-lhe um próprio jardim
mais belo que mil serafins
mil anjos caídos, da vincis ou querubins…
se você fosse a cruz
eu mesmo pregaria em ti meus olhos nus
Aos dias em que tenho passado
Esperando-lhe sem ser esperado
Amando, mesmo que desprezado
E com a cabeça fora do esquadro
Vivendo por viver, despreparado
Desses dias passados lado a lado
Arrumo-me todo feliz e enlatado
Olhando para o relógio atrasado
Ai de mim pretensioso desastrado
Lutando contra solidão, enlutado
No fim do dia eu fico descabelado
E com o coração estrambelhado
Olhando para as horas destratado
Esperando você, ansioso e desalmado
Em minha cabeça, encontro marcado
Olhando as horas num relógio parado
...
-você não veio-
Sofrendo por algo já iluminado pelas suas mãos Mas estou em estado de recusa Não importa quantas vezes pergunte o tarô O tarô irá falar com verdades que ignoro
No fundo poço da minha mente desejo Desejo um amor só isso Quero alguem que me ame Que me chame de meu bem ,de datura E querida Que no final da noite me descasque e beije minha alma ,minhas feridas
Como as ostras ,abra me e diga se gosta das minhas perolas Pegue me pelos braços e balance Só não jogue para longe de você
Deixe me deitar nos seu lençóis Quero acordar com seu olhar arrepiante E Beijar seus labios envenados Que seja corasojo o suficiente para saborear a datura.
Não posso ser
Não posso ser quem eu sou E isso está me matando
Deitei numa banheira branca Vazia como minha alma Profunda como minha dor
E deixei as lágrimas sairem É incrível E notório como elas são parecidas com as gotas do mar Salgadas Escorrendo pela minha face
Logo a banheira virou uma laguna E eu imersa Afundei Oh Deus Se eu me afogar Vão sentir minha falta Eles vão Se acostumariam Mas nada seriam Sem mim
Mas me dói Não poder ser quem eu quero ser E se eu não posso ser quem eu quero ser Do que vale essa vida então? Me pergunto Enquanto a água do agora mar (não mais laguna) entra em minhas narinas
Se eu não posso ser quem eu quero ser Que meu avião para Nova Iorque caia Que um raio me parta Que eu vire poeira de estrada Qualquer coisa Afinal Se eu não posso ser O que eu vou ser?
Foi um erro ter trocado nossa amizade Por um amor que nunca existiu. Embora nossa amizade tenha sido tão perfeita, Nosso namoro foi um grande fracasso. Apesar de tudo, nunca se esqueça: Foi um prazer fracassar com você. Nós não fracassamos sozinhos; fracassamos juntos. E é doloroso ter que te odiar por isso.
Olhe para as suas mãos Estão ficando ainda mais bonitas Seus olhos Seu cabelo... Por que você vê beleza no mundo, mas não vê também em si? Você não pode desistir agora... Há tantas coisas para você experimentar sozinha ainda! Só você tem seus olhos... Você tem seus olhos para apreciar tudo à sua volta, inclusive você mesma. Você pode sentir o vento em seu rosto, do jeito que você gosta... Você pode escrever romances de você para você... Você mesma pode se amar, se cuidar, ser a sua própria felicidade... É tão triste também quando outra pessoa fala isso, né? Parece que ela está invalidando o seu sentimento por ela, mas não por mal, só que ela não sabe... Ou só não quer ter a culpa ou a responsabilidade de carregar o peso desse fardo
A responsabilidade é só sua... Seja independente no máximo de coisas que puder Seja suficiente para você mesma Ame ficar sozinha mesmo, ame ter você mesma Afinal, é sempre, sempre, sempre só você por você...
Seja fiel à si antes de qualquer coisa.
Esvaziado um bocado de rumo
aperto na palma as efemeridades!
alianças torpes elas nesta vida.
uma enxurrada de maneiras, se mira,
de exercer o percorrer humano,
contudo é tonelada na fragilidade
tecer o cenário inteiro com ar exímio,
amarras deletar dos precedentes atos
e ascender sobre potencial disforme.
Meu terapeuta pergunta Eu ainda estou na maravilhosa e idílica Ibiapaba Hoje faz calor, o céu está azul saturado, não há nuvens (da mesma forma que não há mais esperança para mim)
Estou no topo da serra Ando me comunicando por chamadas curtas. Entre falhas. Mas essenciais para minha cura Olhando para o horizonte, o platô verde que transparece certo hedonismo Eu respondo: Eu não tenho medo. Eu não consigo sentir ele.
Há um silencio na linha. Um surrupiar de vendo. Eu me deito na grama. Meu jeans desbotado em contato com a terra úmida. Ele me pergunta: e porque você acha isso?
Mais silencio. Uma ave de rapina plana seu voo no alto. E eu digo que não sei. Falo que talvez seja desequilíbrio químico. Talvez a molécula percursora de ocitocina não exista mais em meu corpo.
Mais silencio. E eu chego a breve conclusão (posso estar errado) de que foi por causa de todos os outros que ela parou de ser produzida em mim. Um momento, uma fagulha e eu me dou conta.
Promessas feitas em quermesses que foram quebradas Noites assistindo filmes e que se transformaram em nada Planos de casamento, casa e filhos que se incendiaram com a ebulição do amor existente entre um indeciso e um covarde Um cara mais velho usando um jovem para ter atenção e se recuperar de seu ex relacionamento, enquanto falava com outros Corpos que entraram em mim e saíram, sem simplesmente um adeus. Que rejeitaram ficar pelo resto da noite. Um garoto que ignorou os sentimentos que eu sentia e tudo que pode me fornecer foi um leve toque nos lábios Um jovem geografo que me empurrou na maior depressão encontrada em seus estudos.
Eu digo não digo a ele isso tudo. Prefiro por aqui. Mas digo a ele que foi a ocitocina. É por ela que não me apaixono mais.
Encerro a ligação e olho para baixo do abismo de Ibiapaba. Todos eles estão lá. Meus fantasmas do passado. Eles olham para mim. Eles olham de uma forma que eu desejaria que eles olhassem. Um olhar abnóxio. Mas na realidade, eles não olhariam daquele jeito.
Eles nem estariam ali. Eu cuspo para baixo. E jogo um pouco de areia pelo penhasco. Talvez seja hora de enterrar todos esses caras.
Eu o vi! Tive a certeza: sozinho e sofrido era ele.
Na penumbra fugaz, e o dia nem sonhava raiar,
esticando seu corpo sob as estrelas a gritar.
Urrava, mas nada o faria sair de sua pele.
Até que caiu, e nada pude fazer.
Lá, espatifado, o que eu diria para confortá-lo?
"As estrelas o aguardam", eu mentiria sem crer.
Que covarde seria eu em calar-me e abraçá-lo.
Foi sozinho a um lugar intransponível.
De corpo e em sonho, cruzou-lhe o véu.
Um sono que não era seu acabou dormido,
e um dia que sequer foi nosso foi perdido.
Trancafiado e preso nesta cama, e tudo real,
vejo que meus gritos altos são silenciosos.
De olhos abertos, revejo os dois corpos.
O choro entala minha garganta, pois tudo é igual.
Em que dia acharia dormir uma tortura,
sonhar assim, onde o choro perdura?
Dias assim fazem pensar que é minha esta culpa.
Carpe Noctmoon 🌙
Passei o dia a te procurar hoje Ainda sei teu nome Como posso esquecer o nome do primeiro que “roubou meu coração”?
Passei o dia pensando em ti Errado de mim Errado para mim Não é certa pensar em ti
Enquanto o cigarro estava em meus lábios rosados e o sol se escondia no horizonte, eu pensava naquele dia que você insistiu em me ver depois da minha tentativa de suicídio.
Porque mesmo? Nem sei. Acho que você gostava de mim. E as vezes acho que você não gostava de mim Pelo menos não da forma que eu apreciava a ti
Passei um bom momento pensando em ti Mas agora o cigarro acabou A nicotina já se foi A fumaça também Assim como tu Da minha vida E dos meus pensamentos
Os pássaros gritam para fora seus desejos
Das sementes, até as baratas, é tudo comida
Uniformemente da cor de folhas caídas
As mesmas que criarão tua próxima vida
Nascido com a gula, criado com a gula
Acima de todos os galhos, mas em galho nenhum
Na pressa do ato, Oduas raiou sem asas
A ambição foi criada no teu leito de morte
Navegou pelos rios, pois não podia voar
Entre as tempestades, as nevascas, As ondas
Não havia motivos para continuar ou para desistir
Embora perseguido eternamente pelos monstros das águas
Morreu denovo, pois percebeu que já estava morto